Capítulo I: Antepassados do Estádio do Restelo
1ª parte: da praia ao Campo do Pau de Fio
Antes de recordar o historial do Estádio do Restelo, desde a sua planificação e construção até aos dias de hoje torna-se incontornável fazer referência aos espaços que o precederam.
Quando decidiu erguer o novo estádio, o Belenenses era já uma colectividade estabelecida com singular grandeza no panorama do desporto nacional, revelada não só em proezas atléticas mas também – e precisamente – na edificação de um outro campo, dos mais emblemáticos e pioneiros recintos da primeira metade do Século XX: as Salésias.
Ao abordar essa «pré-história» do Restelo, portanto, tratamos de evocar um notável legado de sonhos e símbolos – no fundo, uma identidade amadurecida e magnífica – bem como um rol de quase incontáveis adversidades, cuja superação custaria incansáveis labores, mas sublimaria uma inquebrantável vontade. De tudo isso o Restelo não foi o princípio. E, como veremos futuramente, também não foi o fim. Foi herdeiro de cores e amores, mas também de dores…
Belém foi o berço lisboeta do futebol popular. Era não só um local privilegiado para a sua prática, mas propiciava a sua conversão em espectáculo-fenómeno cativante de massas, capaz de congregar ruas e bairros inteiros, despojados de qualquer distinção de classes ou níveis de instrução.
Tudo começou na praia, pois claro, não fossem os nossos os «rapazes da praia» (embora inicialmente de forma trocista). Pouco após o primeiro jogo de «foot-ball» em Portugal continental (promovido pelos irmãos Pinto Basto na Parada de Cascais em 1888) surgiram as primeiras disputas nos areais do Restelo e Pedrouços. O jogo ganhava raízes também na Casa Pia, instituição pioneiríssima na educação física.
Em 1904 foi fundado o primeiro grande clube de futebol de Belém, o Sport Lisboa, que treinava nos terrenos do antigo hipódromo e das Terras do Desembargador, embora cada vez mais furtivamente. O hipódromo, embora já abandonado para o seu propósito inicial (as corridas de cavalos), era frequentemente utilizado para outros fins que prejudicavam não só a realização dos jogos como as próprias marcações do «foot-ball»: ali ensaiavam-se os primeiros vôos a motor, as primeiras corridas de ciclismo (e depois automobilismo); faziam-se exercícios de artilharia e desfilavam a cavalaria e os lanceiros perante dignatários e realeza estrangeira; de quando em quando, um concurso hípico.
Desta forma o Sport Lisboa remeteu-se então às Terras do Desembargador, também conhecidas como Campo das Salésias, por serem fronteiras ao Convento (embora o acesso se fizesse a partir da Calçada da Ajuda). Era «campo», não pelo futebol, mas por ser à época o campo de parada do quartel de cavalaria ali próximo (hoje entremuros, nas Oficinas Gerais de Material de Engenharia)… circunstância que levaria o Sport Lisboa a abandonar precocemente o seu último reduto em Belém, por decisão do próprio Ministério da Guerra. Aos militares não agradavam as intromissões, ajuntamentos consideráveis e, não raras vezes, desordens. Uma boa parte dos jogadores do Sport Lisboa também via com bons olhos a saída das Salésias, pois o terreno tornava-se penoso para jogo (abundavam as covas e desapareciam constantemente as marcações) e as condições gerais eram pobres. Esgotaram-se assim as hipóteses de contar com um campo próprio em Belém e «exilou-se» o Sport Lisboa para outras paragens, entre lamentos e saudades.
Vivia-se a euforia pelo fim da Iª Guerra Mundial quando em 1919 um grupo de jogadores de Belém, cansados de serem a nata dos «outros», resolveram fundar o Clube de Futebol «Os Belenenses»: verdadeiro clube dos belenenses. Começaram por treinar nas Terras do Desembargador (muito brevemente) e logo depois numa nesga de espaço junto à Praça Afonso de Albuquerque (onde, num banco do jardim, haviam decidido fundar o clube).
Devido à súbita e inesperada afluência (de candidatos a jogadores e de público), cedo tomaram novo «campo», logo ao lado, mais para o meio da Rua Vieira Portuense (anexo ao espaço do antigo mercado), bem em frente do casario onde seria instalada a primeira sede, como ainda hoje se testemunha em placa alusiva. Nasceu assim o «Campo do Pau de Fio», assim chamado porque estava ali «plantado» um poste telegráfico, junto à linha divisória do terreno de jogo.
Desde logo se abeirou o povo de Belém para ver o seu novo clube, à volta do campo, por debaixo das colunas e nas varandas das casas. Numa delas até o Presidente da República (Manuel Teixeira Gomes) assistiu a treinos e jogos do Belenenses. Foi ali que o Belenenses exibiu o seu primeiro troféu, a prestigiada Taça dos Mutilados de Guerra. Também ali vicejou o ecletismo do Clube: nas celebrações do 2ª aniversário já se realizavam grandes provas de atletismo e ciclismo… e demonstrações de boxe! Pitoresco, era também o primeiro «vestiário»: a própria casa da família de Artur José Pereira (principal fundador), na Rua do Embaixador.
No entanto e com vista à participação regular no Campeonato de Lisboa (na altura a competição mais importante do País), o Campo do Pau de Fio não reunia as condições necessárias... pelo que o Belenenses passou a realizar os jogos oficiais em campo emprestado: o Stadium do Lumiar.
Mais tarde, em 1924, uma coligação de clubes representados na Associação de Futebol Lisboa levou esta a determinar que aquelas colectividades que dispunham de campos próprios (onde se incluíam as da dita coligação) não os poderiam ceder graciosamente a outros emblemas para efeitos de campeonatos. Directamente visados eram o Belenenses e o Casa Pia (também de Belém e na altura Campeão de Lisboa em título), que assim corriam o risco de não poderem participar no Campeonato de Lisboa. Isto embora o Presidente da Associação fosse Virgílio Paula, ilustre belenense desde os tempos da fundação, a quem a integridade não permitia senão aceitar a vontade unânime dos delegados.
O Casa Pia não demorou muito até inaugurar (no mesmo ano) um campo cedido pela própria instituição, a que se chamou «Campo do Restelo». Para a sua inauguração foi convidado o Belenenses, estando em disputa – apropriadamente – a «Taça Belém» (caprichosamente a contenda terminou em empate, pelo que o troféu ficou por entregar). Note-se que este Campo do Restelo ficava junto à parte ocidental das traseiras do Mosteiro, não coincidindo com qualquer parte do que viria a ser o complexo do Estádio do Restelo.
O Belenenses, por sua vez, passou a ter de alugar o campo do Lumiar, isto enquanto não encontrasse campo próprio e terminasse de vez com a «maldição» de não poder jogar em Belém. E foi por lá, longe de Belém, que o Belenenses conquistou o seu primeiro grande título, o Campeonato de Lisboa, a 21 de Março de 1926 (vitória por 1-0 frente ao Sporting).
Perante o imbróglio colocava-se a hipótese de apresentar o Campo do Pau de Fio como campo próprio. O tesoureiro do Clube logo esclareceu: «Não, isso é quase impossível. Mas nos já deitámos as nossas vistas para o magnifico campo das Salésias». O Belenenses cobiçava já uma faixa de terreno, no coração do seu bairro. Tentou. Após várias insistências, o Governo acedeu. Através de decreto datado de 15 de Dezembro de 1926 foi finalmente estabelecido um acordo, sob os auspícios do Ministério das Finanças:
Deve assinalar-se desde já que a faixa de terreno em causa (que não coincidia com o campo primitivo do Sport Lisboa), enquanto por lá esteve o Belenenses, nunca deixou de ser utilizada para o fim a que foi destinada… bem pelo contrário.
Mas prossigamos com esta grande vitória de 1926, em tudo devida ao esforço do Presidente de então, o Ten. Coronel Luís de Moura.
O Belenenses não perdeu tempo. Logo a 27 de Janeiro de 1927 reuniu uma Assembleia Geral Extraordinária para proceder à ratificação do acordo e aprovação do plano de trabalhos. Surgiram dúvidas. Sentindo um voto de desconfiança, a Direcção apresentou demissão. Porém, em 9 de Março, decorreu nova reunião da Assembleia Geral, dessa vez com sucesso e aclamação (incluindo a recondução do elenco directivo). A título de curiosidade, eram estas as contas previstas:
Custo das obras: 250 mil escudos
Receitas:
Quota suplementar de 30 escudos (valor mínimo de 1000 sócios): 30 mil escudos
Emissão de títulos: 30 mil escudos
Disponibilidades: 40 mil escudos
Empréstimo externo: 150 mil escudos
Deitaram-se as mãos à obra logo a partir do dia 5 de Abril seguinte. O contrato inicial, celebrado com os empreiteiros António Vicente Ramos e Bruno José dos Santos, implicava uma despesa de 92 mil escudos. Em 20 de Maio, nova empreitada, com despesa de 12 mil escudos. No total foram gastos 104 mil escudos.
Em declarações ao jornal «Os Sports», na edição de 5 de Setembro, o Presidente do Clube antevia já com entusiasmo: «Com a inauguração do campo e a instalação da sede, uma e outra coisa funcionando no coração de Belém, os progressos do Clube hão-de acentuar-se. O Belenenses tem uma característica bairrista que é interessante e que não se deve perder».
O Belenenses extravasava já os limites do seu bairro, mas não sendo «clube de bairro», cuidava do seu fervor «bairrista», na melhor e mais castiça acepção possível. No fundo, cuidava da sua identidade. Dias antes daquela entrevista (3 de Setembro) havia sido inaugurada uma concorrida «Feira Franca» no Largo de Belém, com vista à obtenção de fundos. A melhor prova daquelas palavras.
Entre trabalhos e canseiras, a equipa de futebol continuava a ganhar também em campo, ainda que alheio: o Belenenses conquistava no Lumiar o seu primeiro Campeonato de Portugal!
Quanto ao Campo do Pau de Fio, curiosamente, voltaria a ser campo de jogos, mas da FNAT (antecessora do Inatel), desde o início dos anos 40 até à inauguração do seu estádio – o actual «1º de Maio» – em 1959.
1ª parte: da praia ao Campo do Pau de Fio
Antes de recordar o historial do Estádio do Restelo, desde a sua planificação e construção até aos dias de hoje torna-se incontornável fazer referência aos espaços que o precederam.
Quando decidiu erguer o novo estádio, o Belenenses era já uma colectividade estabelecida com singular grandeza no panorama do desporto nacional, revelada não só em proezas atléticas mas também – e precisamente – na edificação de um outro campo, dos mais emblemáticos e pioneiros recintos da primeira metade do Século XX: as Salésias.
Ao abordar essa «pré-história» do Restelo, portanto, tratamos de evocar um notável legado de sonhos e símbolos – no fundo, uma identidade amadurecida e magnífica – bem como um rol de quase incontáveis adversidades, cuja superação custaria incansáveis labores, mas sublimaria uma inquebrantável vontade. De tudo isso o Restelo não foi o princípio. E, como veremos futuramente, também não foi o fim. Foi herdeiro de cores e amores, mas também de dores…
Belém foi o berço lisboeta do futebol popular. Era não só um local privilegiado para a sua prática, mas propiciava a sua conversão em espectáculo-fenómeno cativante de massas, capaz de congregar ruas e bairros inteiros, despojados de qualquer distinção de classes ou níveis de instrução.
Tudo começou na praia, pois claro, não fossem os nossos os «rapazes da praia» (embora inicialmente de forma trocista). Pouco após o primeiro jogo de «foot-ball» em Portugal continental (promovido pelos irmãos Pinto Basto na Parada de Cascais em 1888) surgiram as primeiras disputas nos areais do Restelo e Pedrouços. O jogo ganhava raízes também na Casa Pia, instituição pioneiríssima na educação física.
Em 1904 foi fundado o primeiro grande clube de futebol de Belém, o Sport Lisboa, que treinava nos terrenos do antigo hipódromo e das Terras do Desembargador, embora cada vez mais furtivamente. O hipódromo, embora já abandonado para o seu propósito inicial (as corridas de cavalos), era frequentemente utilizado para outros fins que prejudicavam não só a realização dos jogos como as próprias marcações do «foot-ball»: ali ensaiavam-se os primeiros vôos a motor, as primeiras corridas de ciclismo (e depois automobilismo); faziam-se exercícios de artilharia e desfilavam a cavalaria e os lanceiros perante dignatários e realeza estrangeira; de quando em quando, um concurso hípico.
Desta forma o Sport Lisboa remeteu-se então às Terras do Desembargador, também conhecidas como Campo das Salésias, por serem fronteiras ao Convento (embora o acesso se fizesse a partir da Calçada da Ajuda). Era «campo», não pelo futebol, mas por ser à época o campo de parada do quartel de cavalaria ali próximo (hoje entremuros, nas Oficinas Gerais de Material de Engenharia)… circunstância que levaria o Sport Lisboa a abandonar precocemente o seu último reduto em Belém, por decisão do próprio Ministério da Guerra. Aos militares não agradavam as intromissões, ajuntamentos consideráveis e, não raras vezes, desordens. Uma boa parte dos jogadores do Sport Lisboa também via com bons olhos a saída das Salésias, pois o terreno tornava-se penoso para jogo (abundavam as covas e desapareciam constantemente as marcações) e as condições gerais eram pobres. Esgotaram-se assim as hipóteses de contar com um campo próprio em Belém e «exilou-se» o Sport Lisboa para outras paragens, entre lamentos e saudades.
Vivia-se a euforia pelo fim da Iª Guerra Mundial quando em 1919 um grupo de jogadores de Belém, cansados de serem a nata dos «outros», resolveram fundar o Clube de Futebol «Os Belenenses»: verdadeiro clube dos belenenses. Começaram por treinar nas Terras do Desembargador (muito brevemente) e logo depois numa nesga de espaço junto à Praça Afonso de Albuquerque (onde, num banco do jardim, haviam decidido fundar o clube).
Devido à súbita e inesperada afluência (de candidatos a jogadores e de público), cedo tomaram novo «campo», logo ao lado, mais para o meio da Rua Vieira Portuense (anexo ao espaço do antigo mercado), bem em frente do casario onde seria instalada a primeira sede, como ainda hoje se testemunha em placa alusiva. Nasceu assim o «Campo do Pau de Fio», assim chamado porque estava ali «plantado» um poste telegráfico, junto à linha divisória do terreno de jogo.
Desde logo se abeirou o povo de Belém para ver o seu novo clube, à volta do campo, por debaixo das colunas e nas varandas das casas. Numa delas até o Presidente da República (Manuel Teixeira Gomes) assistiu a treinos e jogos do Belenenses. Foi ali que o Belenenses exibiu o seu primeiro troféu, a prestigiada Taça dos Mutilados de Guerra. Também ali vicejou o ecletismo do Clube: nas celebrações do 2ª aniversário já se realizavam grandes provas de atletismo e ciclismo… e demonstrações de boxe! Pitoresco, era também o primeiro «vestiário»: a própria casa da família de Artur José Pereira (principal fundador), na Rua do Embaixador.
No entanto e com vista à participação regular no Campeonato de Lisboa (na altura a competição mais importante do País), o Campo do Pau de Fio não reunia as condições necessárias... pelo que o Belenenses passou a realizar os jogos oficiais em campo emprestado: o Stadium do Lumiar.
Mais tarde, em 1924, uma coligação de clubes representados na Associação de Futebol Lisboa levou esta a determinar que aquelas colectividades que dispunham de campos próprios (onde se incluíam as da dita coligação) não os poderiam ceder graciosamente a outros emblemas para efeitos de campeonatos. Directamente visados eram o Belenenses e o Casa Pia (também de Belém e na altura Campeão de Lisboa em título), que assim corriam o risco de não poderem participar no Campeonato de Lisboa. Isto embora o Presidente da Associação fosse Virgílio Paula, ilustre belenense desde os tempos da fundação, a quem a integridade não permitia senão aceitar a vontade unânime dos delegados.
O Casa Pia não demorou muito até inaugurar (no mesmo ano) um campo cedido pela própria instituição, a que se chamou «Campo do Restelo». Para a sua inauguração foi convidado o Belenenses, estando em disputa – apropriadamente – a «Taça Belém» (caprichosamente a contenda terminou em empate, pelo que o troféu ficou por entregar). Note-se que este Campo do Restelo ficava junto à parte ocidental das traseiras do Mosteiro, não coincidindo com qualquer parte do que viria a ser o complexo do Estádio do Restelo.
O Belenenses, por sua vez, passou a ter de alugar o campo do Lumiar, isto enquanto não encontrasse campo próprio e terminasse de vez com a «maldição» de não poder jogar em Belém. E foi por lá, longe de Belém, que o Belenenses conquistou o seu primeiro grande título, o Campeonato de Lisboa, a 21 de Março de 1926 (vitória por 1-0 frente ao Sporting).
Perante o imbróglio colocava-se a hipótese de apresentar o Campo do Pau de Fio como campo próprio. O tesoureiro do Clube logo esclareceu: «Não, isso é quase impossível. Mas nos já deitámos as nossas vistas para o magnifico campo das Salésias». O Belenenses cobiçava já uma faixa de terreno, no coração do seu bairro. Tentou. Após várias insistências, o Governo acedeu. Através de decreto datado de 15 de Dezembro de 1926 foi finalmente estabelecido um acordo, sob os auspícios do Ministério das Finanças:
Considerando que ao Governo da República não pode ser alheio o interesse pela causa desportiva do país; Considerando que o Clube de Futebol "Os Belenenses" por várias vezes tem pedido a cedência de terrenos anexos ao Asilo Nun’Alvares [anteriormente denominado Refúgio e Casas de Trabalho e proprietário do antigo edifício do Convento das Salésias e respectiva cerca] para ali instalar o seu campo desportivo; Considerando que em nada o referido asilo é prejudicado por tal cedência: Em nome da Nação, o Governo da República Portuguesa, sob proposta do Ministro das Finanças, decreta para valer como lei o seguinte:
Artigo 1º: É cedida a título precário ao Clube de Futebol "Os Belenenses", com sede na Rua Vieira Portuense, nº 48- 1º, em Belém, desta cidade de Lisboa, uma faixa de terrenos, constante da planta anexa ao processo arquivado na respectiva Repartição, para nela serem instalados a sede e o campo de desporto do referido clube.
Artigo 2º: Reverterá para a posse do referido Asilo a referida faixa de terreno, com todas as obras e benfeitorias ali feitas, e sem indemnização, quando deixar de ser utilizada para o fim a que agora é destinada.
Artigo 3º: O Clube de Futebol "Os Belenenses" entregará ao Asilo Nun’Álvares a percentagem de 6 por cento sobre a receita bruta de todos os desafios de futebol ou festas desportivas, ali realizadas, bem como a receita líquida duma festa desportiva anual.
Artigo 4º: Fica revogada a legislação em contrário.
Deve assinalar-se desde já que a faixa de terreno em causa (que não coincidia com o campo primitivo do Sport Lisboa), enquanto por lá esteve o Belenenses, nunca deixou de ser utilizada para o fim a que foi destinada… bem pelo contrário.
Mas prossigamos com esta grande vitória de 1926, em tudo devida ao esforço do Presidente de então, o Ten. Coronel Luís de Moura.
O Belenenses não perdeu tempo. Logo a 27 de Janeiro de 1927 reuniu uma Assembleia Geral Extraordinária para proceder à ratificação do acordo e aprovação do plano de trabalhos. Surgiram dúvidas. Sentindo um voto de desconfiança, a Direcção apresentou demissão. Porém, em 9 de Março, decorreu nova reunião da Assembleia Geral, dessa vez com sucesso e aclamação (incluindo a recondução do elenco directivo). A título de curiosidade, eram estas as contas previstas:
Custo das obras: 250 mil escudos
Receitas:
Quota suplementar de 30 escudos (valor mínimo de 1000 sócios): 30 mil escudos
Emissão de títulos: 30 mil escudos
Disponibilidades: 40 mil escudos
Empréstimo externo: 150 mil escudos
Deitaram-se as mãos à obra logo a partir do dia 5 de Abril seguinte. O contrato inicial, celebrado com os empreiteiros António Vicente Ramos e Bruno José dos Santos, implicava uma despesa de 92 mil escudos. Em 20 de Maio, nova empreitada, com despesa de 12 mil escudos. No total foram gastos 104 mil escudos.
Em declarações ao jornal «Os Sports», na edição de 5 de Setembro, o Presidente do Clube antevia já com entusiasmo: «Com a inauguração do campo e a instalação da sede, uma e outra coisa funcionando no coração de Belém, os progressos do Clube hão-de acentuar-se. O Belenenses tem uma característica bairrista que é interessante e que não se deve perder».
O Belenenses extravasava já os limites do seu bairro, mas não sendo «clube de bairro», cuidava do seu fervor «bairrista», na melhor e mais castiça acepção possível. No fundo, cuidava da sua identidade. Dias antes daquela entrevista (3 de Setembro) havia sido inaugurada uma concorrida «Feira Franca» no Largo de Belém, com vista à obtenção de fundos. A melhor prova daquelas palavras.
Entre trabalhos e canseiras, a equipa de futebol continuava a ganhar também em campo, ainda que alheio: o Belenenses conquistava no Lumiar o seu primeiro Campeonato de Portugal!
Quanto ao Campo do Pau de Fio, curiosamente, voltaria a ser campo de jogos, mas da FNAT (antecessora do Inatel), desde o início dos anos 40 até à inauguração do seu estádio – o actual «1º de Maio» – em 1959.