Capítulo I: Antepassados do Estádio do Restelo
3ª parte: glória e ameaça sobre as Salésias
No final da década de 30, o Estádio José Manuel Soares era a «sala de visitas» do futebol português. Era, com toda a naturalidade, a «casa» da Selecção Nacional. E em 25 de Junho de 1939...
...coube-lhe nova e grande honra: jogou-se ali a primeira final da Taça de Portugal (vencida pela Académica de Coimbra).
Cumpre destacar que até à inauguração do Estádio Nacional (em 1944) as Salésias também foram uma verdadeira «casa» da Taça de Portugal, tendo sido o palco de 5 finais (a última delas a 1 de Julho de 1945). A título de curiosidade, foi numa das duas finais que não se realizaram nas Salésias (mas sim no estádio do Lumiar) que o Belenenses venceu a sua primeira Taça de Portugal, como veremos adiante.
Era assim um estádio familiar às multidões. Veja-se outro exemplo, este ocorrido ainda em 12 de Fevereiro de 1939: para corresponder à afluência de um Portugal-Suíça o estádio passou a dispôr de mais 5 000 (!) lugares no peão.
Em 1940 foi inaugurado um evento que alterou radicalmente a zona ribeirinha de Belém: a Exposição do Mundo Português. Parecia passar ao lado do Belenenses, que conservava as Salésias. No entanto não era bem assim. Era um sinal do frenesim que ocupava urbanistas e construtores na renovação de Lisboa. Pouco prometia ser poupado e os estádios de futebol estavam longe de ser excepção.
Desde logo e por causa da Exposição o Casa Pia teve de deixar o seu Campo do Restelo, dando lugar a um efémero parque de diversões anexo ao recinto do evento: não mais voltaria a Belém. Isto embora o Belenenses, solidário e fraternal, tivesse oferecido o seu estádio para que os «gansos» pudessem continuar a jogar - retribuição de tantos outros gestos passados. Aqueles encontraram mais tarde nova «casa», mais longe, do outro lado de Monsanto (o seu actual Estádio Pina Manique). A ameaça ao próprio Belenenses parecia adiada. E em frente seguiu.
Ainda em 1940, a pista de atletismo foi beneficiada e o Belenenses chegou a acordo com a Associação de Atletismo de Lisboa para que todas as suas provas oficiais se passassem a realizar exclusivamente no Estádio José Manuel Soares.
A sede do Clube, entretanto, «deambulou» pela Rua de Belém (nº 48), pela antiga Travessa da Praça (nº 8) já em 1942, até que em 1943 «parou» pelo nº 534 da Rua da Junqueira (na esquina com a Calçada da Ajuda).
Em termos de resultados, sereno mas pujante, o Clube granjeou renovados brilharetes. Em 1942, conquistou a primeira Taça de Portugal em futebol. Foi caso para dizer que à terceira foi de vez, já que nas duas finais anteriores o Belenenses havia sido a equipa vencida. Em 1944 conquistou o seu 5º Campeonato de Lisboa. Em 1945 (15 de Maio) a equipa de futebol brilhou em Madrid perante o Real (empate a duas bolas) e fez história no encontro de retribuição (31 de Maio), batendo os espanhóis nas Salésias com um golo de Rafael.
Mas nem só de futebol se engrandeciam os azuis. Nas restantes modalidades sucediam-se as honras, mas também os sacrifícios. Como por exemplo em 1941, quando Acácio Rosa, num de muitos seus gestos de confesso amor pelo ecletismo, pagou do seu bolso a iluminação do campo de basquetebol, inaugurado um ano antes! Em 1945, outro marco da sua «chancela»: a realização do primeiro jogo internacional de Andebol no país.
No Atletismo, Natação, Ciclismo, «Rugby», Basquetebol, Andebol, Hóquei em Campo, Ténis ou Ténis de Mesa... das fileiras do Belenenses destacavam-se campeões e recordistas nacionais, alguns deles para sempre consagrados como referências do desporto português.
Mas o Clube tinha reservado para si um feito mais estrondoso ainda, na modalidade «rainha». Já senhor de três Campeonatos de Portugal, uma Taça de Portugal e cinco Campeonatos de Lisboa, avançou para a época futebolística de 1945/46 com as maiores expectativas, que não foram goradas: o Belenenses sagrou-se pela primeira vez Campeão Nacional da 1ª Divisão de Futebol, para além de ter conquistado o seu sexto Campeonato de Lisboa. A supremacia!
O país ficou a saber afinal que nas Salésias estavam três «Torres de Belém» a guardar o Tejo: Capela, Feliciano e Vasco de Oliveira (com Serafim das Neves, por vezes, a fechar um «quarteto»). Três baluartes transformados em formidável muralha defensiva. Como médio direito, um «Einstein da bola», assim chamaram o genial Mariano Amaro. A estes juntavam-se os vitoriosos campeões Francisco Gomes, Artur Quaresma, Armando Correia, Rafael Correia, Manuel Andrade, José Pedro Bazaliza, António Elói, Mário Coelho, José Sério, Francisco Martins, Mário Sério e António Martinho.
A comandar esta «constelação», o primeiro treinador português a conseguir conquistar um campeonato nacional: Augusto Silva.
Com todos os jogos em casa disputados nas Salésias, só um deles não resultou em vitória (empate frente ao Atlético). Contra a Oliveirense, houve golos com fartura: 10-0...
Mas, a propósito, lembramos que o «record» do conjunto dos Campeonatos Nacionais e Primeira Liga fora estabelecido na época anterior… numa vitória do Belenenses sobre a Académica de Coimbra por 15-2! Mais uma marca histórica do futebol português «fabricada» nas Salésias, que se mantém insuperada até hoje.
À beira de completar 30 anos de história, o Belenenses colocava-se definitivamente no pedestal dos grandes do desporto português. Com as vitórias no futebol, naturalmente, cresceu a massa adepta. Já em 1933, por altura da conquista do terceiro Campeonato de Portugal (mais do que qualquer outro clube conseguiu até então), havia sucedido algo semelhante.
Entre 1942 e 1944, pese a fraca clasificação do futebol neste último ano (um 6º lugar, até então a pior classificação de sempre, preocupando seriamente os dirigentes), a Direcção do Clube podia orgulhar-se de ter quase triplicado o número de sócios contribuintes, de 1721 para 4185. O objectivo seguinte seria chegar aos 5000 sócios. Com a valia da equipa e os triunfos, pareceu até banal (mas não o foi, claro): em 1945 contavam-se 6793 sócios, em 1946, 8498 sócios (!) e em 1947, 9125 sócios! Em 5 anos o Belenenses conseguiu mais do que quintuplicar o seu número de associados!
Por outro lado, a presença de adeptos Belenenses no resto do país (e até no estrangeiro) não parava de aumentar. Quase 20 anos depois do aparecimento dos primeiros clubes filiados, em 1946 eram já 39 as filiais e delegações!
Com tamanho afluxo de novos «Beléns», os dirigentes sentiam crescer as responsabilidades do Clube. Era preciso manter o nível competitivo do futebol mas também atender à prática desportiva em geral. Assim sendo projectaram-se novas valências para o parque desportivo.
Logo em Maio de 1946 – quase em simultâneo com a conquista do Campeonato Nacional de futebol – o Clube remeteu à Câmara Municipal de Lisboa um pedido de autorização para efectuar melhorias no complexo, onde se incluía a construção de um ginásio coberto destinado aos filhos dos sócios. A resposta da edilidade chegou através de despacho publicado no Diário Municipal, no dia 17 de Junho seguinte.
No referido despacho era concedida a autorização para tudo o que havia sido requerido, com um senão. E que senão! A Câmara Municipal de Lisboa notificou o Belenenses de que só poderia dispôr das instalações desportivas das Salésias por mais seis anos, findos os quais teria de abandoná-las! Assim, sem mais nem menos, qual faca apertada à garganta!
Após 20 anos de labor, enlevo e obra feita sem par, o Belenenses, que por ironia e inocentemente propunha novas melhorias, viu-se na iminência de ser despojado de tudo.
Como veremos no capítulo seguinte, a intenção de «deslocar» os estádios de futebol (não só as Salésias) não era nova. Mas o momento e a forma deixavam transparecer outras intenções, falando-se de invejas alheias causadas pelo notório sucesso e crescimento do Clube em todas as frentes.
Pouco depois veio a saber-se qual era a real intenção da Câmara Municipal: dar passo à urbanização da zona. Mas por ora, no presente capítulo, trataremos de acompanhar o que foi feito do Estádio José Manuel Soares, até ao dia em que teve de ser efectivamente abandonado pelo Belenenses.
Perante aquela aberrante contingência, quase todas as melhorias previstas acabaram por ser descartadas, sendo assim evitada despesa inútil… que poderia fazer falta para a solução do novo campo desportivo. No entanto, por entender ser da maior premência e benefício, o Belenenses persistiu na construção do ginásio coberto, que viria a ser inaugurado em Janeiro do ano seguinte.
Ainda em 1947, enquanto o Belenenses sofria pelo destino da sua «casa», surgiu o convite para ser visita de honra na inauguração da «casa» de outrém. Não era um convite qualquer de um clube qualquer. O poderoso Real Madrid, reconhecendo o Belenenses como clube cimeiro em Portugal – mas também já como velho amigo – queria a sua presença na estreia do seu novo Estádio de Chamartin.
A 14 de Dezembro desse mesmo ano cumpriu-se o inolvidável privilégio, com uma exibição de gala que deixaria Madrid deslumbrada pelos azuis de Lisboa. O resultado final foi uma derrota por 3-1 (depois dos sucessos de 1945), mas o «caseirismo» do árbitro do encontro e a impressionante valia do Belenenses não passaram despercebidos à própria (e exigente) imprensa do país vizinho.
Curioso, irónico. Defrontaram-se as mais fortes equipas dos dois lados da fronteira. Uma inaugurava o maior estádio da Península. A outra, o Belenenses, iria perder o seu… ainda sem certezas quanto ao futuro.
3ª parte: glória e ameaça sobre as Salésias
No final da década de 30, o Estádio José Manuel Soares era a «sala de visitas» do futebol português. Era, com toda a naturalidade, a «casa» da Selecção Nacional. E em 25 de Junho de 1939...
...coube-lhe nova e grande honra: jogou-se ali a primeira final da Taça de Portugal (vencida pela Académica de Coimbra).
Cumpre destacar que até à inauguração do Estádio Nacional (em 1944) as Salésias também foram uma verdadeira «casa» da Taça de Portugal, tendo sido o palco de 5 finais (a última delas a 1 de Julho de 1945). A título de curiosidade, foi numa das duas finais que não se realizaram nas Salésias (mas sim no estádio do Lumiar) que o Belenenses venceu a sua primeira Taça de Portugal, como veremos adiante.
Era assim um estádio familiar às multidões. Veja-se outro exemplo, este ocorrido ainda em 12 de Fevereiro de 1939: para corresponder à afluência de um Portugal-Suíça o estádio passou a dispôr de mais 5 000 (!) lugares no peão.
Em 1940 foi inaugurado um evento que alterou radicalmente a zona ribeirinha de Belém: a Exposição do Mundo Português. Parecia passar ao lado do Belenenses, que conservava as Salésias. No entanto não era bem assim. Era um sinal do frenesim que ocupava urbanistas e construtores na renovação de Lisboa. Pouco prometia ser poupado e os estádios de futebol estavam longe de ser excepção.
Desde logo e por causa da Exposição o Casa Pia teve de deixar o seu Campo do Restelo, dando lugar a um efémero parque de diversões anexo ao recinto do evento: não mais voltaria a Belém. Isto embora o Belenenses, solidário e fraternal, tivesse oferecido o seu estádio para que os «gansos» pudessem continuar a jogar - retribuição de tantos outros gestos passados. Aqueles encontraram mais tarde nova «casa», mais longe, do outro lado de Monsanto (o seu actual Estádio Pina Manique). A ameaça ao próprio Belenenses parecia adiada. E em frente seguiu.
Ainda em 1940, a pista de atletismo foi beneficiada e o Belenenses chegou a acordo com a Associação de Atletismo de Lisboa para que todas as suas provas oficiais se passassem a realizar exclusivamente no Estádio José Manuel Soares.
A sede do Clube, entretanto, «deambulou» pela Rua de Belém (nº 48), pela antiga Travessa da Praça (nº 8) já em 1942, até que em 1943 «parou» pelo nº 534 da Rua da Junqueira (na esquina com a Calçada da Ajuda).
Em termos de resultados, sereno mas pujante, o Clube granjeou renovados brilharetes. Em 1942, conquistou a primeira Taça de Portugal em futebol. Foi caso para dizer que à terceira foi de vez, já que nas duas finais anteriores o Belenenses havia sido a equipa vencida. Em 1944 conquistou o seu 5º Campeonato de Lisboa. Em 1945 (15 de Maio) a equipa de futebol brilhou em Madrid perante o Real (empate a duas bolas) e fez história no encontro de retribuição (31 de Maio), batendo os espanhóis nas Salésias com um golo de Rafael.
Mas nem só de futebol se engrandeciam os azuis. Nas restantes modalidades sucediam-se as honras, mas também os sacrifícios. Como por exemplo em 1941, quando Acácio Rosa, num de muitos seus gestos de confesso amor pelo ecletismo, pagou do seu bolso a iluminação do campo de basquetebol, inaugurado um ano antes! Em 1945, outro marco da sua «chancela»: a realização do primeiro jogo internacional de Andebol no país.
No Atletismo, Natação, Ciclismo, «Rugby», Basquetebol, Andebol, Hóquei em Campo, Ténis ou Ténis de Mesa... das fileiras do Belenenses destacavam-se campeões e recordistas nacionais, alguns deles para sempre consagrados como referências do desporto português.
Mas o Clube tinha reservado para si um feito mais estrondoso ainda, na modalidade «rainha». Já senhor de três Campeonatos de Portugal, uma Taça de Portugal e cinco Campeonatos de Lisboa, avançou para a época futebolística de 1945/46 com as maiores expectativas, que não foram goradas: o Belenenses sagrou-se pela primeira vez Campeão Nacional da 1ª Divisão de Futebol, para além de ter conquistado o seu sexto Campeonato de Lisboa. A supremacia!
O país ficou a saber afinal que nas Salésias estavam três «Torres de Belém» a guardar o Tejo: Capela, Feliciano e Vasco de Oliveira (com Serafim das Neves, por vezes, a fechar um «quarteto»). Três baluartes transformados em formidável muralha defensiva. Como médio direito, um «Einstein da bola», assim chamaram o genial Mariano Amaro. A estes juntavam-se os vitoriosos campeões Francisco Gomes, Artur Quaresma, Armando Correia, Rafael Correia, Manuel Andrade, José Pedro Bazaliza, António Elói, Mário Coelho, José Sério, Francisco Martins, Mário Sério e António Martinho.
A comandar esta «constelação», o primeiro treinador português a conseguir conquistar um campeonato nacional: Augusto Silva.
Com todos os jogos em casa disputados nas Salésias, só um deles não resultou em vitória (empate frente ao Atlético). Contra a Oliveirense, houve golos com fartura: 10-0...
Mas, a propósito, lembramos que o «record» do conjunto dos Campeonatos Nacionais e Primeira Liga fora estabelecido na época anterior… numa vitória do Belenenses sobre a Académica de Coimbra por 15-2! Mais uma marca histórica do futebol português «fabricada» nas Salésias, que se mantém insuperada até hoje.
À beira de completar 30 anos de história, o Belenenses colocava-se definitivamente no pedestal dos grandes do desporto português. Com as vitórias no futebol, naturalmente, cresceu a massa adepta. Já em 1933, por altura da conquista do terceiro Campeonato de Portugal (mais do que qualquer outro clube conseguiu até então), havia sucedido algo semelhante.
Entre 1942 e 1944, pese a fraca clasificação do futebol neste último ano (um 6º lugar, até então a pior classificação de sempre, preocupando seriamente os dirigentes), a Direcção do Clube podia orgulhar-se de ter quase triplicado o número de sócios contribuintes, de 1721 para 4185. O objectivo seguinte seria chegar aos 5000 sócios. Com a valia da equipa e os triunfos, pareceu até banal (mas não o foi, claro): em 1945 contavam-se 6793 sócios, em 1946, 8498 sócios (!) e em 1947, 9125 sócios! Em 5 anos o Belenenses conseguiu mais do que quintuplicar o seu número de associados!
Por outro lado, a presença de adeptos Belenenses no resto do país (e até no estrangeiro) não parava de aumentar. Quase 20 anos depois do aparecimento dos primeiros clubes filiados, em 1946 eram já 39 as filiais e delegações!
Com tamanho afluxo de novos «Beléns», os dirigentes sentiam crescer as responsabilidades do Clube. Era preciso manter o nível competitivo do futebol mas também atender à prática desportiva em geral. Assim sendo projectaram-se novas valências para o parque desportivo.
Logo em Maio de 1946 – quase em simultâneo com a conquista do Campeonato Nacional de futebol – o Clube remeteu à Câmara Municipal de Lisboa um pedido de autorização para efectuar melhorias no complexo, onde se incluía a construção de um ginásio coberto destinado aos filhos dos sócios. A resposta da edilidade chegou através de despacho publicado no Diário Municipal, no dia 17 de Junho seguinte.
No referido despacho era concedida a autorização para tudo o que havia sido requerido, com um senão. E que senão! A Câmara Municipal de Lisboa notificou o Belenenses de que só poderia dispôr das instalações desportivas das Salésias por mais seis anos, findos os quais teria de abandoná-las! Assim, sem mais nem menos, qual faca apertada à garganta!
Após 20 anos de labor, enlevo e obra feita sem par, o Belenenses, que por ironia e inocentemente propunha novas melhorias, viu-se na iminência de ser despojado de tudo.
Como veremos no capítulo seguinte, a intenção de «deslocar» os estádios de futebol (não só as Salésias) não era nova. Mas o momento e a forma deixavam transparecer outras intenções, falando-se de invejas alheias causadas pelo notório sucesso e crescimento do Clube em todas as frentes.
Pouco depois veio a saber-se qual era a real intenção da Câmara Municipal: dar passo à urbanização da zona. Mas por ora, no presente capítulo, trataremos de acompanhar o que foi feito do Estádio José Manuel Soares, até ao dia em que teve de ser efectivamente abandonado pelo Belenenses.
Perante aquela aberrante contingência, quase todas as melhorias previstas acabaram por ser descartadas, sendo assim evitada despesa inútil… que poderia fazer falta para a solução do novo campo desportivo. No entanto, por entender ser da maior premência e benefício, o Belenenses persistiu na construção do ginásio coberto, que viria a ser inaugurado em Janeiro do ano seguinte.
Ainda em 1947, enquanto o Belenenses sofria pelo destino da sua «casa», surgiu o convite para ser visita de honra na inauguração da «casa» de outrém. Não era um convite qualquer de um clube qualquer. O poderoso Real Madrid, reconhecendo o Belenenses como clube cimeiro em Portugal – mas também já como velho amigo – queria a sua presença na estreia do seu novo Estádio de Chamartin.
A 14 de Dezembro desse mesmo ano cumpriu-se o inolvidável privilégio, com uma exibição de gala que deixaria Madrid deslumbrada pelos azuis de Lisboa. O resultado final foi uma derrota por 3-1 (depois dos sucessos de 1945), mas o «caseirismo» do árbitro do encontro e a impressionante valia do Belenenses não passaram despercebidos à própria (e exigente) imprensa do país vizinho.
Curioso, irónico. Defrontaram-se as mais fortes equipas dos dois lados da fronteira. Uma inaugurava o maior estádio da Península. A outra, o Belenenses, iria perder o seu… ainda sem certezas quanto ao futuro.